Eram outros tempos…
Sim, são outros tempos e outros costumes. As crianças iam para a escola sozinhas, eram uns se encontrando com outros na estrada cheia de bois, vacas e cavalos, até chegarem à escolinha. Eram só brincadeiras. Na volta do calor, trocamos a estrada por um córrego que margeava a estrada, e assim brincávamos na água. Tempo bom e sem perigo… O perigo era encontrar uma cobra pelo caminho.
Lembro-me de uma brincadeira que fazíamos na terra fofa na estrada de terra, quando chovia. A brincadeira chamava-se "faqueta", na qual levávamos para a escola uma faquinha com ponta e íamos, lado a lado, jogando a faca na terra fofa. Nesta brincadeira, ela tinha que cair e ficar plantada em pé, quem não conseguisse, perdia ponto. Todos os dias tinha um ganhador da brincadeira. Imagina nos dias de hoje, ir para a escola com uma faca na bolsa!
A escola
A escola tinha uma única sala quadrada, com uma única porta de entrada e saída. Para o seu acesso, tinha uma escada arredondada. As janelas eram altas. O banheiro ficava atrás da escola. Quando chovia, chegávamos no banheiro molhados. Para controlar a ida dos alunos ao banheiro, a professora usava uma plaquinha.
A professora
Lembro-me bem dela. O nome da professora era Elza*, uma professora heroína. Ela dava aula para o 1º, 2º e 3º ano ao mesmo tempo. Tinham três lousas na sala, uma para cada turma, conforme o ano escolar em que estávamos. Na hora do lanche, brincávamos de colher flores, frutos das árvores do entorno, isso quando não resolvíamos ir à casa de um amiguinho buscar o lanche esquecido. Andávamos pelos sítios até chegar à casa, pegar o lanche e voltávamos correndo para a escola, sempre perdendo a hora. D.Elza ralhava com a gente, apesar disso, eu aprendi muito com ela. Mas quando passei para o 4º ano, tudo mudou.
Naquele tempo, só tinha 4º ano na cidade. Fui para a escola Conde do Parnaíba, em atividade até hoje, localizada na rua Barão de Jundiaí, no centro de Jundiaí. Para chegar a essa escola, tinha que caminhar 20 minutos, passar pela Via Anhanguera e tomar o ônibus. Tudo era muito bom! Além de muito aprendizado, os coleguinhas passeavam no centro da cidade.
Lembro-me como era bom quando eu tinha dinheiro para ir até a Pauliceia, a padaria e doceria mais famosa da cidade. Também comprava frutas fresquinhas no Mercadão Municipal, que ficava no espaço onde hoje é o Centro das Artes. Só não gostava do dia de dentista. Naquela época, as escolas da cidade tinham dentistas, para mim era terrível, tinha medo da injeção e do motorzinho. Lembro-me bem do dentista! Ele se chamava Dr. Ramão*.
No segundo semestre, comecei a fazer no contraturno escolar o curso de "Admissão ao Ginásio", com o professor Bonilha, que também tinha a escola na rua Barão de Jundiaí. Naquele tempo, entrar no ginásio seria ingressar no Ensino Fundamental II hoje. Eram poucas as vagas e só entravam os alunos que passavam com as melhores notas no teste de admissão. Foi um ano muito intenso, mas me saí bem. Tinha conseguido entrar na Escola Industrial, hoje a escola estadual Dr. Antenor Soares Gandra...
*Os sobrenomes das pessoas mencionadas não foram divulgados por questões da privacidade de dados.
| Autora: Lucinda Cantoni Lopes. Educadora social. Está presidente do CEDECA Jundiaí. Faz parte do Conselho Estadual da Pastoral do Menor e da Diocese de Jundiaí-SP.
| Edição e revisão: Gi Ferreira
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