Eu me encontrei nesta semana, no dia 22/05/24, com Leonardo. Hoje ele é eletricista dos bons, no bairro da vila Marlene. Leonardo me cumprimentou alegre e se lembrou dos passeios de infância com a equipe da Pastoral do Menor. Na época, Leonardo era da Pastoral da vila Marlene CEFOCA.
Lembramos da última vez que fomos à Fazenda Santana em Itu. Foi bom demais, embora eles quisessem ir à piscina, apesar do frio naquele dia. Então, eu os acompanhei. Quando entrei, fiquei um choque! Congelei e tive que ser forte para não demonstrar meu pavor. Os corajosos entraram e brincaram um pouco na água gelada…
Assim que chegamos, fomos em um passeio já organizado, com o espaço dos meninos e das meninas separados, e com os voluntários que ficavam com os meninos e com as meninas separados. Separados só para dormir. Comer, brincar, passear e viver as aventuras, que eram muitas, todos juntos.
Nestes passeios, rolavam gincanas, “caça ao tesouro”, “quem sabe, sabe”, “quem montava o quebra-cabeça mais rápido, sozinho ou em equipe” ... Tudo com muita euforia e muito respeito com todos.
Havia também a escala dos ajudantes do dia, um rodízio onde todos tinham seu dia de contribuir em algum serviço. Quem supervisionava esta parte eram as voluntárias Marina, mãe da Fabiana, e Fátima, mãe da Bia, que revezavam os passeios com Davina, Dirce, Ângela, Sueli, Vitória, Laurinda, Neta, Claide, Neuza e com a Thania, será que me esqueci de alguém? Todas sob a batuta da Irmã Celina. Ah! E do nosso Mestre, que mesmo sendo estagiário em Educação Física, para nós era “o Mestre”, e é até hoje, o querido Carlos Galeote, sempre muito criativo, muito cuidadoso.
Lembro-me dos jogos noturnos: “caça passarinhos”, “pega-pique”, “bandeirinha” e até “correr dos fantasmas”. Lembro-me dos voluntários fantasiados com lençóis. Tínhamos também os momentos de oração, de leitura da Bíblia. Tudo era muito bom!
Mas voltando ao passeio na Fazenda Santana. Depois de todas as atividades, comilanças, brincadeiras, chegaram os perrengues. O caseiro veio avisar que alguns presos tinham fugido da cadeia de Itu e estavam escondidos naquela região. Que susto! Então, tiramos os meninos do chalé no qual estavam e os trouxemos para o mesmo chalé das meninas, assim ficava mais fácil de controlar em caso de uma emergência. Mas daí o bicho pegou, a criançada se entusiasmou, e não cansou, não dormiu...
Chegou o dia de irmos embora. O ônibus chegou um dia antes, pois sairíamos cedo da Fazenda. Levantamo-nos cedo da cama, nos arrumamos e fomos tomar o café. Como era o último dia, todos os alimentos estavam terminando. Depois de organizar a casa, todos entraram no ônibus e fizemos mais uma oração de agradecimento antes de voltar para Jundiaí.
Mas a surpresa veio logo: havia passado o trator nas ruas serranas, que eram de terra. Como choveu a noite toda, o ônibus não conseguia subir. Vai uma tentativa, vai outra, descemos todos do ônibus, mas o coletivo não subia as ladeiras da Serra. Diante desta situação, decidimos parar e pedir silêncio para as crianças, para que os adultos pensassem no que fazer. Acho que ainda não existia celular na época e não tínhamos como ligar para ninguém para pedir ajuda. Decidimos, então, que o Carlos ficaria no ônibus entretendo as crianças com algumas brincadeiras, enquanto eu e mais dois adolescentes do norte desceríamos a pé até a próxima fazenda a fim de conseguir um trator para tirar o ônibus do atoleiro.
Essa caminhada debaixo da chuva com os dois adolescentes não dá para esquecer! Eles me falavam das brincadeiras do norte, de como conversava com os coleguinhas — “Égua, você vai correr?”, “Você é um fio de burro” ... — e como na escola era tudo muito cômico. O pior de tudo foi a minha vontade de fazer xixi. Fiquei com vergonha de pedir licença para os meninos para ir ao mato. Mas não deu outra! Cada vez que eu ria, o xixi saía. E assim foi até chegar à fazenda. Cheguei toda molhada e cheia de xixi, mas eles não sabiam disso.
Lá conseguimos um trator que nos levou até o atoleiro e voltamos com o ônibus para a fazenda. Porém, mais uma surpresa! Quando chegamos, já era noite e sem energia na casa. Tivemos que dormir do jeito que estávamos, e eu cheia de xixi. Já no dia seguinte, a prefeitura de Itu enviou um ônibus mais potente, que fazia as linhas onde não dispunham de asfalto. Subimos todos no ônibus com fome, porque não tínhamos mais lanche e nem onde comprar. Também havia um trator nos acompanhando na subida. Às vezes, ele ajudava o ônibus e, nas ladeiras, nós descíamos e andávamos a pé atrás dele, pois tínhamos medo de que o coletivo deslizasse nas ladeiras.
Chegando na estrada de Itu, havia outro ônibus nos esperando. Daí, sim, conseguimos voltar para casa. Foi uma loucura! Os pais estavam desesperados sem notícias dos filhos e sem saber o porquê eles não chegaram no dia marcado, que era o dia anterior. Mas essa foi só mais uma aventura de tantas que fizemos na Pastoral do Menor, com a certeza de que sempre Deus ia à frente nos guiando.
| Autora: Lucinda Cantoni Lopes. Educadora social. Está presidente do CEDECA Jundiaí. Faz parte do Conselho Estadual da Pastoral do Menor e da Diocese de Jundiaí-SP.
| Edição e Revisão: Gi Ferreira
Encantada com as peripécias da época....quando jovem morava no MS,e lá passei por atoleiros de ônibus e carros ... Depois é divertido relembrar. Outros tempos mesmo.