Em conversa com D. Lucinda sobre qual tema escolher para este domingo, ela me perguntou: "Gy, para este domingo fica a minha aptidão por costura? Ou quer que eu faça um texto relacionado ao trabalho?". Respondi que, como tivemos uma semana "pesada", seria melhor escrever sobre “costura”, uma vez que, para mim, simbolicamente, costurar é como construir relações.
Então, D. Lucinda me respondeu: “Com a sua fala agora, descobri por que gosto tanto de costurar. A costura vai ligando as partes. Vai dando formatos, vai fortalecendo a peça. Esta é a minha prática com tudo. Procuro ir ligando, fortalecendo… enquanto costuro, organizo os projetos…”
Depois que terminamos a nossa conversa, refleti e, muito, sobre costurar e construir relações. Estes dois verbos compartilham sentidos parecidos. Imagine o processo de costura: cada ponto é dado com cuidado, atenção, justeza e sincronismo. A linha utilizada para unir os pedaços de tecido é como a confiança que estabelecemos em nossas relações. Se erramos a costura, é preciso recomeçar, mas com cuidado, pois, dependendo do tecido, terá avarias na sua confecção. E isso requer paciência e atenção, assim como precisamos ser cuidadosos em nossas relações para evitar desentendimentos desnecessários.
No Terceiro Setor, essa comparação se torna ainda mais significativa. Dependemos, na maioria das vezes, de colaborações, parcerias e uma rede de apoio (pessoas) que acreditam e compartilham a mesma causa. Cada interação, cada novo contato, é como um ponto adicional em uma vasta colcha de retalhos, onde precisamos manter a linha forte e segura, sabendo que, se um pedaço se soltar, todo o trabalho pode se desfazer.
Finalizei meus pensamentos, fazendo a seguinte reflexão: para os dias difíceis, lembrar-se da arte de costurar pode trazer um certo conforto. Talvez até seja um lembrete de que, apesar dos desafios, cada ponto que damos, cada esforço que fazemos, contribui para transformar o ambiente em que vivemos em um mundo melhor.
Então, segue o texto da D. Lucinda:
Todas as meninas tinham que aprender a cozinhar e costurar. Cozinhar nunca aprendi direito, acho perda de tempo. Tudo que posso, compro pronto. Mas a costura… Esta, sim, me pegou. Gosto muito de costurar. Quando era pequena, via minhas irmãs e minhas primas mais velhas irem às aulas de corte e costura, e já sonhava em ir também.
Lembro-me de que elas iam em uma sala improvisada na Festa da Uva (Parque Comendador Antônio Carbonari), em Jundiaí. Lembro-me de que eu só poderia ir à festa de formatura de costura no fim do ano.
Então, com 12 anos, chegou a minha vez de aprender a costurar. Que alegria! Eu, minhas irmãs e minhas primas adolescentes íamos juntas. A escola era improvisada e ficava em uma casa na Vila Latorre. Era um curso do SESI, ministrado pela professora D. Neide.
Aprendi bem depressa e não parei mais de costurar.
Quando não tinha tecido, esperava todos irem dormir e cortava a colcha ou o lençol da cama para fazer uma roupa nova para mim. Costurava para todos em minha casa e, quando entrei na Escola Industrial, com 12 anos, fiz o meu uniforme. Quando me casei, com 18 anos, fiz todo o meu enxoval, meu vestido de civil e o de noiva, da igreja.
A máquina era de pedal e, como eu gostava muito dela, minha mãe me deu quando me casei e fui morar na minha casa... Hoje, acredita que costuro todas as roupas que precisam de reparo, que vêm para doação ou bazar?
| Autora: Lucinda Cantoni Lopes. Educadora social. Está presidente do CEDECA Jundiaí. Faz parte do Conselho Estadual da Pastoral do Menor e da Diocese de Jundiaí-SP.
| Autora, edição e revisão: Gi Ferreira
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